A urbanização e a agricultura são os tipos de uso do solo que mais degradam a qualidade da água, porém, embora representando uma pequena porção do território brasileiro, a mineração também possui um impacto severo na qualidade da água. A substituição da vegetação nativa por usos do solo é a grande responsável pela degradação dos recursos hídricos brasileiros.
Embora o Brasil apresente o maior volume de água doce do mundo, este recurso vem se tornando escasso devido ao aumento do consumo, aumento de períodos de seca, sistemas precários de distribuição e fornecimento, tratamento inadequado, e a degradação dos rios e mananciais. Esta situação deve se agravar nos próximos anos devido à contínua expansão do uso do solo sobre ecossistemas naturais, além das mudanças climáticas que devem alterar ainda mais o regime de chuvas e os períodos de seca. Há uma preocupação com o fornecimento de água em quantidade e em qualidade para toda a população brasileira.
A substituição dos ecossistemas naturais por grandes áreas de agricultura, pastagem ou áreas urbanas é a grande responsável pela degradação das águas superficiais no Brasil.
Em 2019, o Brasil enfrentou extensos incêndios florestais e desmatamento, com a Amazônia apresentando sua maior perda florestal em dez anos. Essa situação deve se agravar ainda este ano porque não foram tomadas medidas para retardar ou parar o desmatamento. A conversão dessas áreas florestais no Brasil para outros usos afeta severamente a qualidade da água, altera os ecossistemas aquáticos e compromete o abastecimento de água para a população.
A restauração florestal é uma importante estratégia para minimizar os impactos nos recursos hídricos. O recobrimento com florestas secundárias permite o aumento da infiltração da água no solo, diminuindo os processos erosivos, o escoamento superficial, e aumenta a retenção de poluentes para os corpos d´água.
Há uma necessidade urgente de cumprimento da legislação ambiental, em especial o Código Florestal, para proteção de áreas importantes para proteção dos recursos hídricos, como os corredores de floresta ripária ao longo de corpos d´água. Além disso, programas de restauração florestal em larga escala, como o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, representam uma grande oportunidade para a restauração tanto florestal como dos ambientes aquáticos. A conservação e restauração florestal, bem como a expansão das atividades agropecuárias e urbana deve ser planejada de forma a proteger áreas sensíveis para os recursos hídricos.
Com o uso de modelos hidrológicos é possível prever o impacto futuro do desmatamento e das mudanças do uso do solo na qualidade da água. As projeções para o Brasil mostram uma severa degradação da qualidade da água dos rios decorrente da expansão da fronteira agrícola e das áreas urbanas. Por outro lado, simulações feitas da restauração das Áreas de Preservação Permanente (florestas ripárias) com o cumprimento do Código Florestal evidenciam uma melhora da qualidade da água com a redução de sedimentos, nitrogênio e fósforo na água. Os estudos também mostram que é necessário conservar uma porcentagem da vegetação nas microbacias hidrográficas, além dos corredores ripários, ressaltando também a importância das Reservas Legais para a conservação e melhoria da qualidade da água.
Os cenários futuros de mudanças de uso e cobertura do solo e os impactos na qualidade da água dependem das atuais práticas e políticas públicas. O atual desmantelamento das políticas ambientais diminui a fiscalização ambiental, incluindo do desmatamento, dos licenciamentos e do cumprimento da legislação em geral. Essas decisões afetam não apenas a conservação das florestas, mas também a qualidade da água em todo o território brasileiro. Esse estudo publicado reforça a importância de basear as políticas ambientais em evidências científicas.
Dra. Kaline de Mello
Lepac, Departamento de Ecologia - IB-USP
Prof. Dr. Ricardo H. Taniwaki
Centro de Engenharias, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas – UFAB
Dr. Felipe Rossetti de Paula
Departamento de Ciências Florestais – ESALQ-USP
Profa. Dra. Roberta Averna Valente
Departamento de Ciências Ambientais – UFSCar-Sorocaba
Prof. Dr. Timothy O. Randhir
Department of Environmental Conservation – University of Massachusetts
Prof. Dr. Diego Rodrigues Macedo
Departamento de Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais
Dra. Cecília Gontijo Leal
Departamento de Ciências Florestais, ESALQ-USP
Dra. Carolina Bozetti Rodrigues
Prática Socioambiental
Robert M. Hughes
Amnis Opes Institute and Department of Fisheries & Wildlife, Oregon State University"